Para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos, a recomendação é de duas doses, com seis meses de intervalo entre elas. A partir de 15 anos, são necessárias três doses, sendo a segunda dois meses após a primeira e a última, seis meses após a injeção inicial. Esse também é o esquema indicado para imunodeprimidos, independentemente da idade.
Em nota técnica publicada recentemente, a Sociedade Brasileiram de Imunizações (SBIm) recomenda sempre que possível, o uso preferencial da vacina nonavalente. A entidade médica também orienta a revacinação de pessoas que receberam alguma vacina contra o HPV anteriormente – além da quadrivalente, já esteve disponível no Brasil uma versão bivalente, produzida pela GSK. O objetivo da estratégia, segundo a SBIm, é ampliar a proteção para os subtipos adicionais do vírus.
No entanto, a princípio, não há previsão da incorporação da nova vacina ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Apesar da recomendação, a SBIm ressalta que a vacina quadrivalente continua extremamente efetiva na redução de casos de câncer e de verrugas genitais em ambos os sexos.
Atualmente, a vacinação de rotina contra o HPV é oferecida gratuitamente para meninos e meninas de 9 a 14 anos, no esquema de duas doses. Adultos com condições especiais, como portadores de HIV, transplantados e pessoas em tratamento oncológico com radio ou quimioterapia também podem receber o imunizante pelo SUS.
Embora seja uma infecção sexualmente transmissível, o ideal é realizar a imunização antes do primeiro contato com o vírus. Além disso, a resposta do sistema imune é mais eficaz. Estudos mostram que os títulos de anticorpos são mais altos dos 9 aos 13 anos, em comparação com a aplicação em adolescentes mais velhos e adultos jovens.
Por outro lado, especialistas ressaltam que adultos, até mesmo aqueles que já tiveram contato com o vírus podem se beneficiar da vacinação. Tanto que em 2022, a Febrasgo recomendou aos ginecologistas a indicação da vacina contra o HPV para todas as mulheres adultas.
“Em mulheres até 30 anos, mesmo aquelas que já trataram lesões causadas pelo HPV, estudos clínicos mostraram redução de até 80% no risco de novas lesões ou reinfecções após a vacinação. Em mulheres até 45 anos, também observamos benefícios. Sem a cobertura vacinal, essas mulheres seguem expostas ao risco de novas infecções e do desenvolvimento de lesões cancerígenas”, disse a médica Marcia Datz Abadi, Diretora Médica da MSD Brasil, em comunicado.
Apesar do oferecimento gratuito, a cobertura vacinal contra o HPV no país está muito abaixo da meta de 95% de vacinação estabelecidade pela OMS. Estudo feito pela Fundação do Câncer concluiu que a cobertura vacinal da população feminina entre 9 e 14 anos alcança 76% para a primeira dose e 57% para a segunda dose. Entre meninos de 11 a 14 anos, a adesão é ainda menor: 52% na primeira dose e 36% na segunda.
Entre as regiões, o Norte e o Nordeste tem menores coberturas vacinais. Por outro lado, eles também apresentam as maiores taxas de incidência de mortalidade por câncer de colo de útero. Já a região Sul foi a que mais se aproximou da meta estabelecida pela OMS na primeira dose em meninas — 87,8%. Porém, é também a que apresenta maior índice de não comparecimento na segunda dose: 25,8% entre as mulheres e 20,8% entre os homens.
Atingir altas taxas de cobertura contra o HPV é um desafio no mundo inteiro por muitos motivos. Os principais envolvem a crença errônea de que a vacina em pessoas tão jovens seja um incentivo ao início da vida sexual e o medo de efeitos colaterais. A primeira teoria é veemente rechaçada por especialistas e evidências científicas.
— Não é uma vacina para a vida sexual. É uma vacina contra o câncer de colo de útero, uma doença que mata muito no nosso país e que não escolhe nivel social. Se conseguirmos altas coberguras nas meninas e meninos de 9 a 14 anos, conseguiremos eliminar o câncer de colo de forma que teremos geração de mulheres sem o risco de terem esse câncer — diz Martins.
O segundo motivo, também. Quadros de desmaios e convulsões associados à vacinação, por exemplo, foram causados por reações psicogênicas e não pela vacina.
— É uma vacina extremamente segura e estudada — afirma Martins.
Uma nova pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta outra razão: a desinformação. Dados Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, que entrevistou 159.245 estudantes brasileiros de 13 a 17 anos, mostra que quase metade (46,8%) dos particopantes disse que simplesnente “não sabia que tinha que tomar” a vacina.
O câncer de colo de útero é o terceiro tumo maligno mais frequente na população feminina brasileira, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A estimativa é de 17 mil novos diagnósticos entre 2023 e 2025 e 95% dos casos são relacionados ao HPV. Também há evidências científicas que relacionam o HPV com cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.
Além da prevenção por meio da vacina, outra ferramenta contra o câncer é o rastreamento por meio de exames como o papanicolau.
Link: https://oglobo.globo.com/saude/vacina-e-saude/noticia/2023/04/hpv-nova-vacina-que-protege-contra-nove-subtipos-da-doenca-chega-ao-brasil.ghtml